terça-feira, 27 de maio de 2008

2.


Mª João Rato
da série: Pinturas de boudoir

"Paisagem com ombro"
óleo s/ tela, 50 x 70 cm , 2004





"CYRIL. (entra, transpondo a janela aberta que dá para o terraço). Meu caro Vivian, não te feches todo o dia na biblioteca. Está uma tarde perfeitamente encantadora. O ar embriaga de tanta suavidade. Há neblina nos bosques e um esplendor purpurino nas árvores. Vamos sair daqui, estender-nos na relva, fumar cigarros, desfrutar a Natureza.
VIVIAN. Desfrutar a Natureza! É bom de dizer. Perdi inteiramente essa faculdade. As pessoas garantem-nos que a Arte nos faz amar a Natureza muito mais do que a amaríamos sem ela, e que os segredos da segunda nos são revelados pela primeira. Também dizem que após o estudo minucioso de Corot e Constable vemos coisas naturais que antes tinham escapado à nossa observação. A minha própria experiência diz-me o contrário: quanto mais estudo a Arte, menos me interessa a Natureza(...)
CYRIL. Bem, não é preciso olhar para a paisagem. Basta estender-nos na relva, fumar e conversar.
VIVIAN. Mas a Natureza é tão desconfortável. A relva é dura, e áspera, e húmida, e cheia de medonhos insectos pretos. (...) Se a Natureza fosse confortável, a arquitectura nunca teria sido inventada."


In«O Declínio da Mentira», Oscar Wilde, Edit. Vega 2005, trad. Ernesto Sampaio

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