"Pois deves saber que nós poetas não podemos seguir o caminho da beleza sem que Eros se nos depare e se torne nosso guia; podemos bem ser heróis à nossa maneira e guerreiros honestos, mas somos sempre como as mulheres, pois a paixão é a nossa sublimação e o nosso desejo será sempre o amor - é esta a nossa vontade e a nossa vergonha. Vês agora por que é que nós poetas não podemos ser sábios nem dignos? Que seguimos necessariamente o caminho falso, que necessariamente permanecemos libertinos e aventureiros do sentimento? A mestria do nosso estilo é mentira e loucura, a nossa fama e distinção uma farsa, a confiança do público em nós altamente ridícula e a educação do povo e da juventude através da arte um empreendimento arriscado, a proibir. De outro modo, como poderia ser educador aquele que tem inata uma incorrigível e natural atracção para o abismo?"
In «A Morte em Veneza», Thomas Mann, edit. Relógio d'Água 1987, trad. Cláudia Fisher.