segunda-feira, 21 de julho de 2008

12.

da série: Iconografia
"Paixão"
óleo s/ tela
Mª João, 2005
"Muitas vezes, no decurso da existência, a realidade me decepcionara porque, ao vislumbrá-la, a minha imaginação, meu único orgão para sentir a beleza, não se lhe podia aplicar, devido à lei inevitável em virtude da qual só é possível imaginar-se o ausente. E eis que repentinamente se neutralizava, se sustinha o efeito dessa dura lei, pelo expediente maravilhoso da natureza, fazendo cintilar a mesma sensação tanto no passado, o que permitia à imaginação gozá-la, como no presente, onde o abalo efectivo dos sentidos, pelo som, pelo contacto, acrescentara aos sonhos da fantasia aquilo de que são habitualmente desprovidos, a ideia da existência, e, graças a esse subterfúgio, me fora dado obter, isolar, imobilizar-a duração de um relâmpago-o que nunca dantes apreendera: um pouco de tempo em estado puro".
Marcel Proust
in Em Busca do Tempo Perdido, vol. VII, o tempo redescoberto.
Edição Livros do Brasil, Lisboa,trad. de Mário Quintana.

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