terça-feira, 8 de julho de 2008

10.

da série: Iconografia
"O Manto Azul"
óleo s/ tela, 50 x 50 cm
MJoão, 2006
"O dominicano Giovanni Balbi de Gênes, no sec. XIII, deu-nos uma definição espantosa de figura num dicionário célebre, o Catholicon, largamente utilizado até ao alvorecer do séc. XVI.
No artigo figurare deste dicionário escrito em latim, lê-se: Figurare, a um nível superficial, significa representar uma coisa sob o seu aspecto natural (forma naturae). Mas a um nível bem mais profundo e essencial, figurare torna-se um verbo muito paradoxal, equivalente aos dois verbos praefigurare e mesmo defigurare. Porquê? Porque o acto de figurar consiste estritamente em «transportar ou deslocar o sentido (o sentido da coisa que queremos significar) para uma outra figura» (in aliam figuram mutare). É neste transporte e nesta alteridade que se constitui todo o paradoxo da figura como teia de relações. Figurar uma coisa não é portanto restituir-lhe o seu aspecto natural ou "figurativo".
É exactamente do contrário que se trata, de levar a cabo todo um deslocamento do seu aspecto, para tentar apreender ou aproximar por um desvio, da sua verdade essencial".
In "L´image ouverte: motifs de l'incarnation dans les arts visuels" de George Didi-Huberman, Gallimard, 2007 (trad. minha).

1 comentário:

Anónimo disse...
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