quarta-feira, 25 de junho de 2008

8.

da série: Iconografia

"Antoninho"
óleo s/tela, 80 x 30 cm

MJoão, 2007
"Nada nos envelhece mais do que uma colecção de objectos de arte.
Tirou, um por um, os personagens da Commedia, das prateleiras, e colocou-os no charco de luz onde pareciam patinar no tampo de vidro da mesa, girando nos seus pedestais de espuma dourada, como se ficassem para ali a rir, a rodopiar e a improvisar eternamente.
Scaramouche dedilharia a guitarra.
Brihella aliviaria os passeantes das suas bolsas.
O Capitão, como todos os militares, brandiria infantilmente a sua espada.
O Doutor mataria os pacientes a fim de os livrar das doenças.
Os anéis de macarrão ficariam para sempre suspensos por cima das narinas de Pulichinelo.
Pantalão babar-se-ia de gozo diante dos seus sacos a abarrotar de dinheiro.
A Innamorata, como todos os travestis deste mundo, seria seguida por uma multidão a caminho do teatro.
Colombina continuaria pela eternidade fora apaixonada por Arlequim - «era pura loucura confiar nele».
E Arlequim...O Arlequim...o arqui-improvisador, brincalhão, malandro, o rei dos vira-casacas...pavonear-se-ia para todo o sempre na sua pulmagem multicor, sorriria maliciosamente por detrás da máscara, entraria sorrateiramente nas alcovas, venderia fraldas para os filhos do Grande Eunuco, dançaria à beira do abismo...O Perfeito D. Camaleão!"
In 'UTZ', de Bruce Chatwin; Quetzal Editores, Lisboa 1991; trad. de José Luis Luna

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